quinta-feira, junho 21, 2007

Contos de Quinta...

para Fabrício Fortes

Se a menina tivesse dito sim, teria encontrado mais que uma mulher; teria arrebatado uma cúmplice para todo e qualquer momento, para toda e qualquer ilusão de fim-de-noite. E teriam tido filhos, três ao todo, que lhes trariam conforto na velhice e muita dor de cabeça nos duros tempos precursores. Teriam sido felizes, o mais possível, se é possível fazer tal afirmação sem causar ao menos uma mácula de tristeza no semblante.

Se a banca tivesse dito sim, teria encontrado mais que uma carreira; teria vivenciado uma intensa paixão pelo trabalho e se tornado um físico de extremo valor. E teria proferido palestras, incontáveis, que teriam influenciado determinantemente a vida de pelo menos oito jovens, um dos quais revolucionaria, dezessete anos depois, os fundamentos da dinâmica aero-espacial. Teriam sido bem-sucedidos, ainda que tivessem merecido mais, se é que alguém realmente pode ser mais sem inúmeras subtrações.

Se tivesse dito sim a si mesmo, e se dedicado aos prazeres da pintura, teria encontrado mais que um hobby; teria se deparado com a poesia da vida, a magia das pequenas coisas e a complexidade dos detalhes. E teria se aposentado, e comprado uma casa no campo, onde haveria de colher flores e frutos dispersos, posteriormente impressos em aquarelas de natureza morta. Teriam sido expostos, e assim admirados os tais quadros, se não é mistério que toda arte esconde algo do qual se tem medo.

Mas foi o político quem disse sim à guerra e atravessou, tal qual a bala de fuzil que matou o jovem soldado, todos os planos de uma vida pacífica e tranqüila, que nunca haverá de ser nada para além de um conjunto de incertezas derrubadas numa tarde qualquer de maio.


17 comentários:

Tamires disse...

E o desejo não foi uma ordem...

Anônimo disse...

Nossa, que triste...¨
:(

Unknown disse...

Comecei a ler e jamais podia imaginar que tinha a ver com guerra. Gostei muito!

4rthur disse...

É rosa, entendo e acho que alguns dos melhores textos do Dioguito são assim: caminhos suspensos que te levam para um final surpreendente.

Gostei muito, brother, fazia tempo que não lia material inédito seu direto no blog.

Abraço e até o Gotan.

Vivi disse...

"Teriam sido expostos, e assim admirados os tais quadros, se não é mistério que toda arte esconde algo do qual se tem medo." O trecho que mais gostei, talvez porque além disso a arte nos distrai do medo e até consegue arrancar beleza dele, como esse texto fez. É "tirar leite de pedra" como se diz no popular.

Anônimo disse...

Soldados são só soldados, dos dois lados. Mas a guerra só tem um lado, que é o ruim.
Achei esse (nano!) conto de quinta muito tocante. Ainda bem que no Brasil não tem guerra, quer dizer...

Miosótis disse...

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. * >,´< * Hoje é
.*._/\_ .*. * . .. *um dia qualquer * . * .
. * . * . ._/\_.
* . * . . * >,´< . Mas, um Olá!
(¨`´¨)×. mesmo que virtual,
..¸(¨´¨) × já faz a diferença.
.... .. `•.¸.•.´Por isto estou aqui,´(¨`•.•´¨)
... ..`•.¸.•´para deixar minha marca
¸.•)´ (.•´no teu coração.
(¸.o` ¸.o´¸.o*´¨ ¸.o*¨ ¸.o´ ¸.o`¸.)

Naeno disse...

MINÚNCIAS

Você vê que eu sou assim: meio pedra, meio doce
E todas as constelações, visto o luar em você,
São o meu único ancoradouro de minhas manhãs.
Toda a manhã de beijos e água escorrendo,
Esse desmanchar dos meus olhos em água
Tomada de gosto de beijos.
Toda a tua pele de pluma quando passeio
Por entre os pelos todos deitados,
Voraz e saborosa, poluente, me sucumbe de ardência
Mesmo o celibato de um monge,
Ou o coração de um gladiador impiedoso.
Dá pra ver que minha pele é um arco-íris
Marcado pela inclemência danosa do sol.
Só que com você em me reparo de alegrias
Um cão solto no mundo, um lobo na tundra
Meus pensamentos são vagos, minha base trepidante
A minha língua é passo, canto e passarinho
Réstia de sol no cinza, asa do bem ao bom
Mas quando você dança, vôo deserto em meu olhar,
Eu mal posso cantar: minha canção de ternura
Minha flor sonho no fim, estás sem mim.

Um forte abraço brasileiro
Naeno

Vivi disse...

aFF, já tava até felizinha, achando que de repente era pra mim o poema aí de cima que recebi no meu blog, e o vejo aqui! Mas como tem gente marketeira nesse mundo...em vez de comentar o texto brilhante do Sr. Lyra, vem fazer jabá! rs rs

Roberta disse...

Meu trecho predileto foi esse:
"E teria se aposentado, e comprado uma casa no campo, onde haveria de colher flores e frutos dispersos, posteriormente impressos em aquarelas de natureza morta".
Arrasou!

gigi disse...

poxa, dig, vc não vai mais postar a coluna do Turco do Bigode?

blah disse...

Muito bom, adorei!!

Concordo com a vivi, nada a ver postar seu próprios poemas nos comentários... enfim... não posso falar nada que a primeira vez que comentei num blog (do Arthur) despejei quase um texto inteiro rsrsrsrs

blah disse...

Diogo, tá na hora mesmo de marcarmos o chopp dos blogueiros!!

Me passa seu e-mail por scrap de orkut que a gente troca telefones!

abs

Clara Mazini disse...

Três letrinhas tão precisas quanto perigosas. Às vezes dá uma felicidade ou um medo imenso pensar que pode depender de tão pouco. É muito grande.
Adorei o texto. Adorei!

Samantha Abreu disse...

Que reflexivo... triste, melancólico..
bem do jeito que eu gosto.
Ai, Ai!

um beijo

Fabrício Fortes disse...

encantado com a beleza do texto e emocionado com a dedicatória.. obrigado, diogo.. e parabéns.
tua narrativa é coisa da melhor espécie.

Anônimo disse...

lindo!!!!!!!!!!!