quinta-feira, março 01, 2007

Contos de Quinta...



As Crônicas Secretas

do Carnaval ou

www.leve_me_ao_seu_líder.com/carn/rj/07


Dizem por aí que o carnaval de rua morreu, ou, pelo menos, que está preso num cordão de isolamento onde só entra quem comprou o abadá. Ora bolas, meus caros leitores, trata-se de uma afirmação leviana e, diria até, maliciosamente plantada por foliões cariocas dispostos a curtir seu bloco predileto sem serem esmagados pela multidão. O carnaval de rua no Rio está vivo sim, tão vivo que já não se pode dizer que exista um carnaval, mas uma série de diferentes carnavais. Porém, tão certo como 2 e 2 são 22, esses diferentes carnavais fazem do carnaval do Rio um carnaval como já não se faz mais em lugar algum do globo - nem mesmo em Niterói.

Digo isso já que essa história de carnaval como festa catártica do povo, alheia às clivagens sociais e o caralho-a-quatro nasceu bem aqui, na cidade do Rio de Janeiro, quando esta terra ainda engatinhava na arte de ser maravilhosa. Chamava-se entrudo nosso pretérito carnaval, festa marcada por um sem número de confusões e sacanagens, um libera-geral no qual se admitia, inclusive, bombardeio de urina, fezes, tinta e comida estragada - que vinham das janelas direto para a cabeça do folião incauto. Uns eram pegos à força. Outros tinham suas casas invadidas. E ninguém escapava e ninguém era de ninguém. Por tudo isso não é de se estranhar que, depois de aportada a família real portuguesa no Rio de Janeiro, em 1808, esta festa tão divertida quanto violenta tenha sofrido sérias restrições. Foi, como dizem por aí, civilizando-se. E, com o passar do tempo, e do tempo que leva pra se civilizar alguma coisa, virou o carnaval tal qual o conhecemos agora.

Mas já dando um basta neste papinho pseudo-histórico, e indo direto ao ponto, gostaria de dizer que tenho uma boa e uma má notícia sobre o carnaval de rua carioca: se por um lado ele está cada vez melhor, por outro, a cada ano fica mais complicado conseguir aproveitá-lo.

Bem, vamos com calma. Disse que existe, na verdade, uma série de carnavais que constituem, ao final, o carnaval do Rio. Acontece que para cada carnaval existe o segredo de onde encontrá-lo, pois tantos quantos são os carnavais, são, também, seus tipos ideiais simpatizantes. Para fins didáticos, contudo, poderia dizer que existem, basicamente, três tipos clássicos de amantes do carnaval: os pegadores, os gringos e os foliões. Nos dois primeiros casos, por diferentes razões que fogem à nossa análise, qualquer carnaval é carnaval e está tranquilo, enquanto, para os foliões, é preciso um alto grau de seleção e bom senso sobre os eventos a serem curtidos. E é aí que mora o perigo... ao menos para quem não tem internet, celular e, sobretudo, um amigo descolado.

Sim, é a mais pura verdade: a popularidade dos blocos fez dos blocos eventos dirigidos para pops e não para populares - afinal, como é que gente jovem e bonita dos arredores de Santa Teresa e Laranjeiras, por exemplo, poderia "pular carnaval" cercada por um mundaréu de "outras gentes" ostentando todos os perfis possíveis que, comumente, chamamos de "povo"?

Daí que blocos saíam em segredo; propagavam datas e horas erradas; mudavam o som das marchinhas para EMO (procurando disfarçar a presença do bloco); enfim, a juventude pós-moderninha carioca fez de tudo e empregou de todos os ardis e perfídias possíveis para curtir sua festa carnavalesca sem os usuais carnavalescos de rua. Chegaram, inclusive, a promover um bloco só de frevo, onde neo-pernambucanos cariocas espremiam-se para ouvir um som tão baixo (eram músicos de Laranjeiras e um público de Santa Teresa) que parecia vir direto de Recife - quando no carnaval de Recife viam-se, pela telinha da BAND, trios elétricos tocando marchinhas tipicamente cariocas em ritmo de frevo. Entendo...

Obviamente toda essa conjuntura exigia dos foliões manobras homéricas de translação, consultas ao blog da hora, ao site do momento, ao amigo descolado via celular, debates sobre onde, quando e porque no MSN, checadas intermitentes ao Google Earth - procurando a localização do carnaval -, alguns chegaram mesmo a fundar seu próprio bloco, para não correrem riscos de ficar de fora da festa da carne.

Eu, particularmente, amo o carnaval de rua do Rio de Janeiro. E continuo a aproveitá-lo ainda que, para além de ir se civilizando, ele tenha se tecnologizado de uma maneira tão insólita até chegar ao ponto que, modestamente, denominei como o carnaval do "www.leve-me_ao_seu_líder.com.br". Contudo, aprendi minha lição: carnaval que é carnaval não tem só bunda larga. Tem que ter banda larga também!
Até 2008...

13 comentários:

4rthur disse...

Corroborando uma das afirmações do texto, tenho uma crítica a fazer:

O bloco Céu na Terra, que considero ótimo, tem ficado a cada ano que passa mais cheio, chegando à beira do hoje já insuportável Carmelitas. Pra contornar o problema, a saída deles foi essa: o desfile desse último carnaval aconteceu concomitante ao Cordão da Bola Preta, o mais tradicional bloco carnavalesco do Rio, que tem a fama - comprovada - de ser, de fato, alheio às clivagens sociais. Lá tem todo o tipo de gente, de todas as classes sociais; afinal, segundo a PM, foram 200 mil pessoas no bloco esse ano.

Com a brilhante estratégia do Céu na Terra, povão e moderninhos estão finalmente apartados. Não é à toa que ouvi de mais uma pessoa a declaração de que "no Céu na Terra desse ano só tinha gente bonita". E o povão, simbolizado pelo brasileiro feio, desdentado e malcriado, alheio aos requintes do único morro hype do Rio onde homens e mulheres jovens, bonitos e sadios transitam sem medo, se aglomerava na Cinelândia em meio a carros-pipa e muito queijo coalho e frituras diversas.

Tenho certeza que os dirigentes do bloco estão satisfeitos com tão feliz divisão, e aposto as calças como ano que vem a história se repete. Já pra galera do Bola... bem, o que é um punhado de modernos perto dos 200 mil que o Cordão arrasta?

Anônimo disse...

Punk Gracinha, te vi no Boitatá!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Diogo Lyra disse...

Querida Luciene, não só é a primeira vez que sou chamado de 'punk gracinha" como, sobretudo, sou reconhecido por alguém que nunca vi antes! Sem sombra de dúvidas os créditos são da peruca...
Volte sempre e obrigado!

* esta foto foi tirada, de fato, no dia do Boitatá.

Anônimo disse...

Para tudo existe uma primeira vez...

Anônimo disse...

valeu Diogão!!!!

4rthur disse...

punk gracinha? terá o mundo virado de cabeça pra baixo enquanto eu dormia?

Diogo Lyra disse...

Calma Arthur, eu te empresto minha peruca no próximo carnaval...

4rthur disse...

brigado! Sempre quis viver um dia de punk na minha vida!

4rthur disse...

até animou minha tarde sombria...

Samantha Abreu disse...

em feverê tem carná...

Unknown disse...

concordo com vc... mas nada se compara a tradição do cacique

toquei tamborim, e ano que vem me comprometi com um velho cacique que entro pra bateria oficial.

as aulas de tamborim já se iniciaram...

que venham os caciques de ramos! ôba!

ah, pena que nao te vi no boitatá, mas achei deveras cheio e ano que vem não irei ao encontro dos tais moderninhos enfeitados, serei mais ainda seletiva.

beijos

Hi

Diogo Lyra disse...

Pô Hilaine, se existe um bloco de modernos que vale a pena é o Boitatá. Sim, é cheio, contudo o evento se passa na forma de baile, na praça XV, à sombra, sem seletividade outra que não o horário matutino. Na minha humilde opinião, é o único bloco absolutamente imprescindível do carnaval carioca...
*pau no cu do bloco Céu na Terra de Santa Teresa!!!!

4rthur disse...

mas vc está falando do cu mesmo ou do elemento cobre?