BURGUESES
Sabia que estava morto mas desconhecia, obviamente, os protocolos vindouros. Arrebatou-lhe, porém, uma curiosidade súbita que, em diálogo com suas enfermas crenças ocidentais, motivou uma reflexão quase caricatural sobre sua trajetória de vida. Antevendo de pronto suas prováveis consequências, sentiu o suor escorrer pela face e percebeu que suada é também a vida de quem já morreu. E pensou nas piscinas, nos on the rocks, no tabaco caribenho, nas bucetas interesseiras. E pensou no carro, na casa, no banco, nas infinidades de seguros.
Logo concluiu que levara uma vida pobre apesar da riqueza, miúda no apego às grandiosidades. Era um estúpido, arrogante, idiota. Foi-se sem saber o que é ser decente e concluiu que sequer teve chances de mudar. Esbravejou, logo se culpou, depois arrependeu-se... e chorou. E só queria uma chance. E só queria ser outro. E só queria...
... abriu os olhos e verificou a realidade. Nela constatou ter urinado nas calças, além de se encontrar banhado pelo próprio vômito. Os amigos burgueses riam. Todos na festa riam. E ele desejou estar morto.
12 comentários:
Booooooaa! Gostei!
Ah fale sério... apenas crise existencial!Coisa passageira...
Garanto-lhe que é bem melhor chorar numa BMW que chorar num fusca.
"Sr. Lyra", sua gaveta mágica é ótima e adorei os dois nanocontos!Voltarei sempre,
bjs.
Muito legal.
Lindo.....
Suores, vómitos, urina.....
Decadência pura!
Muito bom!
Obrigada pela visita.
Volte sempre
P.S. Quanto ao comentário que vc me deixou......eh..eh..eh..eu nem comento!!!
Iraaaado!
Já passei por isso... malditos amigos burgueses!
Bom demais, Diogo!
esse é o estilo realista e cruelmente piedoso que eu tanto amo.
Adorei!
Beijo
O nome dele poderia ser João da Bôa Morte Volúpias...
sua mente trabalha, hein rapaz!
(Graças a Dio Santo!) :)
Profundo...
bjs
;D
bebun eh foda!
Por isso que eu digo... dêem valor aos gatinhos de estimação... eles nunca irão rir de você.
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