SEM LUZ
"O homem cansado da vida estava cansado, sobretudo, de si mesmo. Sozinho, mergulhado na imensidão de seus próprios pensamentos vazios, chorou lágrimas piedosas e, sentindo-se nefasto logo em seguida, julgou por bem abandornar os esforços cardíacos e respiratórios que tanto insistiam em mantê-lo vivo e sofrido neste mundo repleto de espinhos e urticárias.
Chorou, e chorou, e chorou. Não queria ir-se assim, sem nem ao menos outro choro que lamentasse seu próprio lamento de um ângulo diverso. Queria alguém, qualquer um, um qualquer, em qualquer lugar, que pudesse exercer sobre ele a força coatora da vida para, dessa forma, resgatá-lo. E colocou uma bala prateada no tambor do revólver negro e opaco. E sentiu com isso um arroubo de estranha felicidade. E como pressentisse no brilho letal da bala um horizonte iluminado que nunca antes experimentara, dirigiu seus dedos ao gatilho, chorando uma vez mais".
Foi quando o abrupto interrompimento da eletricidade apagou do computador o texto não salvo do jovem escritor e salvou, sem querer, a vida de seu personagem...
9 comentários:
Ao menos uma vez a Light serviu para alguma coisa...
Muito bom esse. Me amarro nessa construção: "como pressentisse no brilho letal da bala", sem o óbvio "se" no meio.
E, corroborando as palavras do amigo acima, vimos que, às vezes, quem salva não precisa ser nem santo nem maconheiro.
Adorei seu nanoconto surrealista!!!
Beijos.
É cada um com o seu cada qual mesmo,eu por exemplo,me encontro tão feliz nesse momento que não consigo entender o pessimismo contido no texto...
Beijão Lyra.
Bom, muito bom...
Lyra, espero que o jovem escritor não seja tu mesmo, senão vou ficar rezando pra luz faltar todo dia...
esse é mais um do meu estilo preferido.
Mais uma vez, muito bommmm!!!!
Beijo
Revolution, o jovem escritor poderia até ser eu, mas salvo meus textos toda hora. O fato é que não é o jovem escritor que está na merda (muito menos eu), mas sim seu personagem - cujo texto não salvo foi reproduzido por mim nos dois primeiros parágrafos!
Tamires, não há pessimismo. Foi o jovem - displicente - escritor quem escreveu - e não salvou - os parágrafos sobre o "homem cansado da vida"...
Valeu galera restante!
Ufa!!!
rsrsrsrsrsrs
devia estar ouvindo maria betânia!!! bjs
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